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INSTITUIÇÃO E CARISMA, À LUZ DA TRADIÇÃO DE JESUS

 VII SEMANA TEOLÓGICA PE. JOSÉ COMBLIN

 

"Este texto e as perguntas finais podem servir como introdução e motivação da 7a Semana Teológica Pe. José Comblin, a serem usadas nas Jornadas Comunitárias."
(equipe da Semana Teológica)

 

“Não foram vocês que Me escolheram, mas foi Eu quem

os escolhi, para que vocês vão e deêm fruto, e seu fruto

permaneça” (Jo. 15,16).

Ao longo da história do Povo de Deus, em especial do Cristianismo, tem sido uma constante o tencionamento entre, de um lado, a vocação ao exercício do Carisma e, por outro lado, a tendência ao engessamento do Carisma, pela via burocratizante das instituições, em particular, das Igrejas Cristãs. Ainda que não se trate de experiências necessariamente excludentes, Carisma e Instituição, raramente se tem alcançado entre os dois pólos uma desejável equilibração.

Com efeito, a vocação dos cristãos passa pelo assumir consciente e perseverante do seu carisma, à medida que, pelo Batismo e sobretudo pelo seguimento da Tradição de Jesus, somos chamados a assumir, no chão do dia-a-dia, a tríplice dimensão - cidadã (Profecia), pastoral (Pastoreio) e celebrativa (Sacerdócio).

O carisma constitui um dom de Deus, uma vocação à qual somos chamados a responder com generosidade e perseverança, consciente do alerta da parte de Jesus: “Não foram vocês que Me escolheram, mas fui Eu quem os escolhi, para que vocês vão e deêm fruto, e seu fruto permaneça” (Jo. 15,16). Contudo, devido às limitações humanas (pessoais e sociais), não raramente, estamos a transgredir este alerta, sucumbindo aos apelos da idolatria do ter, do poder, do prestígio.... Daí surgem os multiformes desvios e as infidelidades aos apelos do Evangelho, o que se dá através das mais variadas estratégias de auto-afirmação patológica contra os direitos e aspiraçõs do conjunto dos Cristãos e Cristãs, em especialmente pela via da institucionalização de privilégios e prerrogativas de poder e de enriquecimento de poucos, quase sempre em desrespeito à dignidade do conjunto dos cristãos e cristãs e em benefício de um ou de poucos – quase sempre membros da alta hierarquia.

Convém ter presente, entretanto, que, mesmo nos períodos mais tenebrosos de burocratização institucional (por exemplo, no período da Inquisição), nunca deixou de haver movimentos, grupos e pessoas a testemunharem, com gestos e palavras, a força do seu carisma, denunciando toda sorte de abuso de poder e de injustiça, ao mesmo tempo em que cuidavam de anunciar o horizonte do Reino de Deus ainda que muitas vezes que pagando com a própria vida, aja vista o abençoado legado dos movimentos pauperísticos da Idade Média.

Hoje, também, se faz presente, sob formas diferentes, o mesmo tensionamento entre, de um lado, as “minorias abrahámicas” (Dom Helder), grupos que lutam por profundas reformas das estruturas eclesiásticas e, por outro lado, uma pequena minoria de privilegiados que ditam preceitos, normas e preconceitos contra o conjunto dos Cristãos e Cristãs, a despeito do abençoado e fecundo ministério petrino de Francisco, Bispo de Roma, que tem sido ainda uma “voz no deserto”.

 

Ao celebrarmos, em 2017, os 500 anos da Reforma Protestante, numa perspectiva de reconstrução da unidade dos cristãos e cristãs, em novo estilo, também vem à tona a tensão entre “Carisma e Instituição”. No âmbito das Igrejas Cristãs se dá igualmente o tensionamento entre carisma e instituição, entre, de um lado, a Hierarquia e os chefes eclesiásticos, sempre empenhados em manter os seua privilégios e, de outro lado, as bases eclesiais buscando alterar tais estruturas.

Dentre as manifestações mais extremadas deste tencionamento, irrompem iniciativas de cunho fundamentalista, inclusive ao interno de Igrejas Cristãs, a resistirem freneticamente a todo esforço de renovação.

Tal tensão extende-se para além das fronteiras eclesiásticas, fazendo-se presente também em vários espaços da sociedade civil, por meio do confronto entre setores dominantes (as trans- nacionais, o capital finaceiro, grandes empresas, o agro/hidronegócio, as grandes empreiteiras, as instâncias governamentais, etc...) e o conjunto dos cidadãos e cidadãs, em especial, os protagonistas dos movimentos e demais organizações de base de nossa sociedade. Enquanto os primeiros se empenham em manter e ampliar seus privilégios, mediante a concentração crescente de riqueza, de poderes e de saberes, as forças organizadas da sociedade civil, por seu lado, cuidam não apenas de resistir, mas também de protagonizar iniciativas e experiências alternativas ao modelo vigente. Justamente aí incide o confronto entre carisma e instituição. Enquanto os privilegiados, sentindo-se favorecidos pelo modelo vigente, tratam de fortalecer as pilastras deste modelo, do qual o Mercado e o Estado capitalistas constituem seus fundamentos axiais, as forças sociais renovadoras, por seu lado, tratam de ensaiar passos alternativos ao mesmo modelo. Neste sentido, os movimentos populares e demais organizações de base empenham-se em criar e alimentar multiformes experiências de desconcentração do ter, do poder e dos saberes, inclusive no âmbito da educação e da saúde, de que é exemplo o trabalho protagonizado pelo movimento de Terapia Comunitária Integrativa (TCI), que aposta no protagonismo de todos, também, nos processos de cura.

Tencionamento entre Carisma e Instituição também se dá, principalmente, em tempo de crise, como sucede atualmente no Brasil e em várias partes da América Latina e do Mundo. A superação desta crise múltipla (econômica, política, ética...) passa também pelo exercício de uma Espiritualidade incarnada e de uma Mística revolucionária, inspiradas na Tradição de Jesus.

 

Atividades e perguntas: na organização da VII STPJC, estamos propondo refletir, em conjunto, entre as diferentes Comunidades, em especial nas Jornadas Comunitárias e na Sessão de Encerramento, as implicações dessas questões acima apresentadas. Com o proposito de ajudar na reflexão, em pequenos grupos, propomos a consideração dos seguintes questionamentos:

- A partir do tema chave - Carisma e Instituição, à luz da Tradição de Jesus - que aspectos mais fortes lhes chamam a atenção?

- No chão do cotidiano de nossa igreja, que pontos merecem nossa reflexão crítica especial?

- No dia a dia da sua comunidade, com relação a esses temas acima propostos, quais os principais desafios aí encontramos?

 

 

 

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