PADRE EZEQUIEL RAMIN: MÁRTIR DA COMUNHÃO COM O POVO

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Genildo Santana

 

“Comungar é tornar-se um perigo,

Viemos pra incomodar”

Antonio Cardoso

 

No dia 24 de Julho a Igreja – notadamente os Combonianos, a Diocese de Ji-Paraná, em Rondônia – e todos os movimentos sociais de luta e resistência, farão memória celebrativa dos 35 anos de martírio do Padre Ezequiel Ramin, morto em Cacoal, Rondônia, a mando dos fazendeiros da Fazenda Catuva, Omar e Osmar.

Nosso artigo faz uma leitura dos acontecimentos que levaram à morte do Padre Ezequiel Ramin, à luz dos conflitos do campo, do compromisso eucarístico com os pobres – e sua implicação pastoral, prática, bem como busca uma atualização do martírio do Padre Ezequiel e o que ele nos diz nos dias atuais.

Ainda quando seminarista nos anos 90, li o livro Terra e Arame Farpado: Ezequiel Ramin, Voz dos Excluídos de Enzo Santângelo, lançado em 1995, em face da memória dos dez anos do martírio de Padre Ezequiel. Nele, o autor declara, ao se referir aos sem-terra, em luta contra os fazendeiros, os grileiros, que

 

Foi por eles que Ezequiel optou. Anunciou o Evangelho da justiça. Denunciou o pecado da acumulação. Desagradou a muitos. Tornou-se conhecido dos pequenos e amado por eles. Odiado pelos poderosos. E seu sangue encharcou esta terra brasileira. Tinha ido ao encontro dos sem-terra para buscar caminhos que o fizeram calar. Silêncio foi o que não aconteceu. Depois de morto, falou muito mais alto, para todo o Brasil, para o mundo. (Santângelo, 1995).

 

Esse livro impactou em minha alma a imagem, a história e a opção do Padre Ezequiel Ramin. Ezequiel Ramin era Missionário Comboniano – os Combonianos foram fundados por Daniel Comboni (1831-1881), Bispo católico italiano, canonizado em 5 de outubro de 2003 pelo papa João Paulo II, que pretendia “salvar a África pela própria África” – com 32 anos de idade. Os Combonianos estavam na região de Cacoal desde o início dos anos 70, quando atenderam ao apelo missionário para aquela região, vindos do Espírito Santo para Rondônia. Ali se estabeleceram, criaram Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), animaram celebrações e se inteiraram dos conflitos agrários envolvendo fazendeiros, pistoleiros, indígenas e posseiros vindos das mais variadas regiões do Brasil.

Foi nesse contexto que Ezequiel Ramin chegou em 1984. Padre jovem, italiano, já havia militado em movimentos estudantis e, a partir da indignação com as realidades de sofrimento dos mais pobres, atendendo a um chamado, entrou nos Combonianos com o sonho de levar a Palavra de Deus ao próximo e de mudar as realidades de dor e sofrimento dos mais pobres. Havia feito experiências missionárias no México, em Richmond, na Virgínia, E.U.A., em uma comunidade de afrodescendentes excluídos da vida humana.

De uma sensibilidade aguçada e inteligência dinâmica, Ezequiel foi ordenado Padre em 1980, em Pádua, sua terra natal e ficou por quatro anos na Itália. Sensível ao sofrimento do outro, dois meses após sua ordenação estava ajudando as vítimas de um terremoto na região de Nápoles.

Segundo Rafael Vigolo, no Livro Padre Ezequiel Ramin, testemunha de um amor sem limites,

 

O Pe. Ezequiel tinha um belo sonho: amar sem fronteiras. Seu sonho não incluía somente a si mesmo, mas nele estavam muitas pessoas, e até mesmo as futuras gerações. Tinha um coração aberto a todos, desejoso de amar sem medidas: um coração missionário. Queria dedicar toda a sua vida, e caso fosse necessário também a sua morte, à causa do Evangelho e servindo os mais pobres (VIGOLO, 2018, p. 13).

 

 

E seu sonho se concretizou quando foi enviado para o Brasil, em 1984, aos 31 anos de idade. Segundo o próprio Padre Ezequiel,

 

Estou começando os preparativos para a minha missão no Brasil (...) Sou feliz! No que diz respeito ao trabalho que irei realizar, dizem que será no seminário de Lages, em Santa Catarina... Não sei se a notícia que recebi tem fundamento, (...) mas o meu desejo é fazer uma experiência de fronteira. (Ezequiel, APUD VIGOLO, 2018, p. 14).

 

E foi atendido. Após passar uns meses em Brasília para estudar a língua, os costumes, a história, os hábitos da gente brasileira, inculturando-se à sua realidade e à realidade da Igreja no Brasil, Padre Ezequiel foi mandado para Cacoal, em Rondônia, pertencente à Diocese de Ji-Paraná, sob o pastoreio de Dom Antonio Possamai.

 

 

1 – PADRE EZEQUIEL RAMIN LÊ A REALIDADE À LUZ DA PALAVRA DE DEUS

 

Em Cacoal, o jovem Padre Ezequiel logo se inteira da cruel e complexa realidade econômica, política, religiosa e social daquele povo. Vigolo nos dá um panorama da realidade de Cacoal, naquele período:

 

Rondónia, meados dos anos 80. O Governo Federal havia iniciado naquela região um processo de colonização em grande escala: abria estradas, distribuía terras, incentivava o plantio e a produção, e de todo o Brasil chamava famílias, garantindo que para todas haveria oportunidades e futuro. As pessoas vinham aos milhares dos quatro cantos do país, carregando suas coisas e tentando deixar para trás seus sofrimentos. O que era mato virava povoado da noite para o dia. E os povoados viravam cidades, com comércio, os primeiros serviços, pequenas indústrias. (VIGOLO, 2018, p. 14).

 

E diz o outro lado da história, o lado dos que realmente estavam perdendo com essa realidade acima apontada: os Índios Surui.

 

No entanto, havia também o outro lado da moeda. Os indígenas estavam perdendo suas terras e morriam pelas doenças trazidas pela migração. Não foram consultados nem respeitados, simplesmente mortos e afugentados. Suas terras foram invadidas, seus líderes assassinados, suas riquezas naturais roubadas. (VIGOLO, 2018, p.15).

 

 

Foi essa realidade que o jovem Padre Ezequiel encontrou. À luz da sua fé e da palavra de Deus, não hesitou em tomar a defesa intransigente dos índios e dos posseiros. Padre Ezequiel tinha clareza evangélica e social de sua opção. Profético em suas palavras e ações, não se intimidou em ser parte de uma Igreja que denuncia as forças do anti-Reino e anuncia as maravilhas do reino de Deus.

 

Meu trabalho aqui é de anúncio e denúncia. Não pode ser de outro jeito, considerada a situação do povo. Precisamos apoiar bastante os movimentos populares e qualquer associação sindical. A fé precisa andar de mãos dadas com a vida (EZEQUIEL APUD João Munari, 2006, p. 21).

 

Passou a visitar os posseiros e os indígenas, dormindo em suas casas, organizando celebrações, reunindo-os para lutar por seus direitos, o que o levou a ganhar a antipatia dos poderosos, políticos, militares e dos fazendeiros. Num jipe Gurgel ou numa moto ou num cavalo ou a pé mesmo, Padre Ezequiel não media esforços para ir ao encontro dos que dele precisavam, o que o levou a ser amado, aceito e querido por índios, pelos pobres de Cacoal. Nas palavras do próprio Padre Ezequiel “aqui muita gente tinha terra: foi vendida. Tinha casa: foi destruída. Tinha filhos: foram mortos. Tinha aberto estradas: foram fechadas. A essas pessoas eu já dei minha resposta: um abraço!" (Ezequiel APUD Munari, 2006, p. 19). Tinha consciência também dos perigos que corria ao assumir a defesa dos empobrecidos e perseguidos pelo capital, pela jagunçada, pelos fazendeiros, políticos e até pela polícia. Em um dos sermões, assim se expressou: "Não aprovamos violências. embora recebamos violência. O padre que está falando. recebeu ameaças de morte. Querido irmão. se minha vida te pertence, vai te pertencer também minha morte". (MUNARI, 2006, p. 18).

Ezequiel comungou com aquela gente em sua dor, em sua luta por vida digna, em sua luta para não morrer vítima de pistoleiros, em sua caminhada de dor e sofrimento, abandonados àquela terra, até pelo Governo. “Comungar é tornar-se um perigo/ Viemos pra incomodar” diz a música Se calarem a Voz dos Profetas, de Antonio Cardoso, muito conhecida. Pois Padre Ezequiel comungou de verdade e tornou-se um perigo, incomodou. Ele mesmo havia expressado a consciência de sua missão nesses termos: “sei muito bem que esta escolha vai me custar muito caro e, desde agora, aceito voluntariamente todas as consequências que dela vierem: quem sabe a prisão, a tortura e, também, a vida” (Ezequiel APUD Munari, 2006, p. 25).

Uma fé que não incomoda é cômoda. Uma Igreja que não incomoda os poderosos não comunga com a luta do povo. Esse, o sentido pastoral da comunhão. Para além do mistério eucarístico – o Cristo encarnado, o Deus vivo, o Corpo e Sangue do Senhor - a comunhão é também compromisso com as realidades de dor, perseguição, morte, sofrimento, fome do povo. Para além da Missa, a Missão. A Missa pede a Missão. Sem Missão, a Missa se esvazia em conteúdo e sentido. Padre Ezequiel levou a comunhão à sua prática pastoral. Padre Ezequiel comungou com a história de sofrimento daquele povo. Quem comunga, rompe. Rompe com estruturas gerantes de dor, sofrimento, morte. Comunhão é vida e chama à vida. Padre Ezequiel chamou aquele povo à vida, rompendo com as estruturas de morte, de dor, de sofrimento, de exploração que ali – como em todo lugar – representam as forças do anti-Reino. Comungar é implantar também o Reino de Deus e esse só pode ser implantado sob os escombros do anti-Reino. Padre Ezequiel levou a comunhão a sério, como Dom Pedro Casaldáliga que chegou a negá-la a um fazendeiro que explorava e expulsava as pessoas de suas terras para criar boi, em São Félix do Araguaia.

 

2 – A MORTE QUE GEROU VIDA.

 

Aos 24 de Julho de 1985, Padre Ezequiel Ramin, acompanhado de Adílio de Souza, Líder sindical de Cacoal, foi à Fazenda Catuva, dos irmãos Omar e Osmar, para convencer os posseiros a saírem de lá e aguardarem as decisões judiciais que tramitavam no Fórum de Cacoal. Os irmãos da Fazenda Catuva haviam se apropriado de 2.499 hectares de terra e pretendiam chegar aos 50.000 hectares. Expulsaram à base da bala todos que ali moravam há anos. Dialogando com os posseiros, Padre Ezequiel os convenceu a saírem da Fazenda e já vinham embora, quando foram cercados por sete jagunços que já foram atirando no carro e neles. Adílio saiu por um lado e conseguiu entrar na mata, já Padre Ezequiel foi alvejado e caiu perto do carro e, deitado, ainda lhe deram vários tiros à queima-roupa. Seu corpo lá ficou até ao meio dia do dia 2, quando, avisados por Adílio, seus irmãos Combonianos foram buscar, escoltados pela polícia. Segundo João Munari,

 

Depois de uns dois quilômetros, na saída de uma curva, o ataque. Havias sete homens armados, em posição de tiro, a uns trinta metros de distância. Dois deles abriram fogo: veio uma primeira rajada de balas. Ainda dentro do carro, padre Ezequiel foi atingido: "Pára, para pelo amor de Deus", gritou. Depois, saiu do carro pelo lado do motorista, afastando-se dos atiradores. Adílio saiu em direção contrária, alcançando a mata. Ezequiel caiu uns cinqüenta metros depois. Alguém chegou e, à queima-roupa, descarregou nele a espingarda (MUNARI, 2006, p. 23).

 

 

A notícia da morte do Padre Ezequiel Logo ganhou Cacoal, a Diocese de Ji-Paraná, Rondônia, o Brasil e o mundo. Seus pais logo souberam na Itália e pediram para o filho ser enterrado lá, em sua terra, no que foram atendidos. O governo brasileiro quis tomar – ou fingir tomar – providências para os conflitos agrários em Rondônia. Nada de efetivo foi feito. O povo recebeu o corpo do seu padre amigo, do jovem animado, firme, disposto, corajoso. A Diocese celebrou sua missa de corpo presente, logo transformada em ato de revolta e de protesto nas ruas de Cacoal.

Mas foi o povo com os quais ele convivia quem mais se comovia naquele instante. Sabia que tinha perdido um amigo. O líder dos Indios Surui, em emocionante discurso chamou Ezequiel de irmão, nesses dizeres:Eu estou sentindo muita tristeza. Sinto como se um filho ou um irmão meu tivesse morrido. Uma pessoa muito amiga minha, um amigo do peito hoje morreu. Um homem rico matou ele, e por isso os indígenas estão muito tristes.” (VIGOLO, 2018, p. 26). Dona Deusenira, em seu discurso, assim falou: “O dia do lavrador, este ano, foi diferente: calaram aquele que falava por nós. Eles pensaram que, talvez, ao calarem um, fariam com que todos ficássemos calados. Mas se enganaram. Agora iremos gritar mais forte ainda!” (Idem).

Não houve punições nem aos assassinos, nem aos mandantes. Anos depois, dois pistoleiros foram presos e condenados, porém, logo soltos.

Morto, Padre Ezequiel vive na memória dos índios Surui, dos posseiros, do povo de Cacoal. Vendo sua história, uma moça resolve ser freira e um rapaz entra para o seminário, se ordenando padre, anos depois, motivado pela história do padre Ezequiel. Padre Ezequiel passa a dar nomes a salões comunitários, creches, escolas, sindicatos, salões paroquiais, centros estudantis, grêmios livres, associações culturais, como o Instituto Padre Ezequiel Ramin (IPER), em Ji-Paraná, que há mais de 30 anos trabalha pelos pobres, em defesa da natureza, da agricultura e da dignidade da pessoa humana. Entrou para o martirológio latino-americano e virou símbolo da luta pela terra. Foi quando viu sua camisa encharcada de sangue que o Padre Cirineu Khun, missionário verbita, compôs a tão conhecida, cantada e bela canção Pai Nosso dos Mártires, como ele mesmo diz: “Aquela foto do Ezequiel caído no chão, todo perfurado de balas me impactou muito. Aquele sentimento misturado com muita indignação me levou a compor o Pai Nosso dos Mártires.” (VIGOLO, 2018, p. 26).

O próprio Padre Ezequiel havia dito que “a nossa morte é uma vitória com aparência de derrota.”

Em 2015, durante a celebração dos 30 anos da morte do Padre Ezequiel, o seu irmão Antônio Ramin veio ao Brasil. Ao ver tamanha participação de pessoas e o carinho que expressavam para com o Ezequiel, afirmou estar contente ao dar-se conta de que o seu irmão já não pertence somente a Pádua, nem somente à família, mas à Rondónia, ao Brasil e à Igreja. (VIGOLO, 2018, p. 29).

 

 

3 – O QUE NOS DIZ PADRE EZEQUIEL NOS DIAS ATUAIS?

A vida, a história, a opção e o martírio do Padre Ezequiel Ramin muito nos dizem nos dias atuais. Fazendo hoje uma releitura em derredor do Padre Ezequiel podemos constatar que ele nos ensina como ser cristão e de que lado estar.

Primeiro, Padre Ezequiel nos diz que a vivência do evangelho é radical. Radical no sentido de ser fiel ao que se prega, ao que se ensina, ao que se vive. Radical é diferente de sectário. Radical implica ser fiel a si e, no caso do cristianismo, ser fiel ao que Jesus pregou e viveu. E não se pode ser fiel a Jesus aplaudindo, sendo conivente, compactuando com situações de exploração, de morte ou com seus agentes humanos, culturais, políticos, econômicos.

A seguir, Padre Ezequiel nos ensina o compromisso dos que comungam. Comungar é tornar-se um perigo, diz Antonio Cardoso na música Se Calarem a Voz dos Profetas. Quem comunga Cristo, em seu Corpo e seu Sangue, comunga a fé, a esperança, as angústias, a luta do povo sofrido. E quem comunga com o povo, não pode comungar com os opressores do povo, seus carrascos, representados pelo poderio econômico, político, religioso, social. Lembramos a bela sentença de Enrique Dussel “ a razão que critica não pode ser a mesma razão que legitima a coisa criticada.” Padre Ezequiel nos ensina que não se pode ser cristão e legitimar a opressão, a violência, a morte estrutural, a dor que os poderosos infligem aos mais pobres.

Não é ousadia dizer – e Padre Ezequiel nos mostrou muito bem – que a fé é parcial e mais, que Deus é parcial: está do lado dos oprimidos, dos que sofrem e não do lado dos que infligem sofrimento e dor ao povo. Como diz Maria “Deus exalta os humildes e depõe dos tronos os poderosos” (Lc 1, 52). Frei Betto diz que mais do que a fé em Cristo, temos que ter a Fé de Cristo. E os evangelhos nos mostram como Cristo viveu sua fé, defendendo os pobres, os perseguidos, acusando as “raposas”, os perseguidores, os poderosos de então. Foi a Fé de Cristo que animou o Padre Ezequiel Ramin a lutar pelos que sofriam, em Cacoal.

Padre Ezequiel nos mostra o que é ser profeta. O profeta anuncia e denuncia. Anuncia as maravilhas do Reino de Deus e denuncia as forças do anti-Reino. Ser profeta é assumir um lado à luz da Palavra de Deus, afinal ninguém se faz profeta sozinho. Ele é chamado a ser profeta. A parcialidade se expressa nas próprias fórmulas proféticas, desde os profetas bíblicos: “Vocês, perseguidores”, “Meu povo, perseguido.” O profeta não diz o que o Rei quer ouvir, mas o que Deus quer que seja dito, o que precisa ser dito, independente da vontade do Rei. Esse ser profético se dá através da palavra e do gesto. E Padre Ezequiel foi um profeta da palavra – basta ver sua homilia de 17 de fevereiro de 1985, quando nominou os Fazendeiros, políticos, opressores de índios e dos posseiros – e foi um homem do gesto. Não se intimidou quando o ameaçaram. Foi à Fazenda Catuva, corajosamente, armado de evangelho e de diálogo e evitou conflitos armados. Tanto a palavra quanto o gesto são escandalosos e incomodam a moral – ou falsa moral – os costumes e o fazem porque enquanto gesto e palavra proféticos, trazem, em seu bojo, algo de novo e de radical. Os profetas foram no seu tempo – e são hoje – levados a tomar certas atitudes que aos olhos dos bons costumes e da fé, são tomados como escandalosos. Pode-se dizer ainda que se não há escândalo, ali não há profecia (SANTANA, 2007, p. 26).

Padre Ezequiel nos ensinou a não ter medo. Ele foi profeta e foi mártir. Duas categorias importantes para a Igreja Latinoamericana. Diz Padre José Comblin, em seu livro Vocação Para a Liberdade que “os mártires ensinaram à igreja o dever da desobediência. Os mártires da América Latina também libertaram a igreja do medo e da covardia.” (COMBLIN, 1998. p. 77).

Fazendo hoje uma releitura da vida e do legado de Padre Ezequiel Ramin, cremos que ele estava certo, quando disse que “a nossa morte é uma vitória com aparência de derrota.” Padre Ezequiel venceu. Débil, frágil, manso, com as armas da fé, delegou ao porão da história, ao esquecimento ou à triste memória, seus assassinos e mandantes. Já ele, se junta aos milhares de mártires que animam e sustentam a vida de outras milhares de comunidades, não só no Brasil, na América Latina, mas no mundo todo. É como diz dona Deusenira:

Eles pensaram que, talvez, ao calarem um, fariam com que todos ficássemos calados. Mas se enganaram. Agora iremos gritar mais forte ainda!”

VIVA PADRE EZEQUIEL RAMIN!

VIVA SUA BEATIFICAÇÃO!

 

 

REFERÊNCIAS:

MUNARI, João. Ezequiel Ramin, a força de um testemunho. São Paulo. Editora Alô Mundo. 2006.

 

COMBLIN, José. Vocação Para a Liberdade. São Paulo. Ed. Paulus. 1998.

 

SANTANA, Genildo. Profecia. Tabira. Editora Asa Branca. 2007.

 

SANTÂNGELO, Enzo. Terra e Arame Farpado: Ezequiel Ramin, Voz dos Excluídos. São Paulo. Ed. Loyola. 1995.

 

VIGOLO, Rafael. EZEQUIEL RAMIN TESTEMUNHA DE UM AMOR SEM LIMITES. São Paulo. Editora Alô Mundo. 2018.