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A LIBERTAÇÃO NO SÉCULO XXI

Síntese das conferencias publicadas - Retormar a Teologia da Libertaçao na América Latina - Seminário com Pe. José Comblin - 25 e 26 de setembro de 2006 - CEPIS - São Paulo - Brasil.

Alguem disse um dia que os generais sempre preparam a última guerra passada. Surge uma nova guerra e eles perdem. A burocracia dos Estados Maiores prevaleceu e, diante de um novo desafio, os generais não souberam como reagir. É o que acontece com os Estados Unidos com Israel.

A mesma coisa acontece na Igreja católica. Fazem inúmeras reuniões para preparar a pastoral do século XX, quando não é do século XIX. A mesma coisa acontece com muitos movimentos sociais, movimentos políticos de esquerda e movimentos de transformações sociais. Preparam a revolução de 1970. Não é estranho. No Chile durante o breve governo de Allende assisti a reuniões onde se debatia para saber se estavam em abril de 1917, em julho ou em outubro. A tomada de poder pelos bolcheviques na Rússia em outubro era a referência. No entanto os militares estavam preparando o golpe e os partidos de esquerda não o sabiam ou negavam o que estava acontecendo.

 

  1. A situação em 2006.

 

  1. Situação mundial

 

Os Estados Unidos acabam de sofrer um grave revés no Medio Oriente com o fracasso de Israel na invasão do Sul do Líbano e o bombardeio de muitas cidades libanesas incluída a capital. Israel não conseguiu os seus objetivos e teve que se retirar . As suas forças armadas sofreram perdas sérias e não conseguiram destruir a força militar de Hezbolla. Com isso o Hezbolla adquiriu um imenso prestígio no Oriente e no mundo. Já é com o a vanguarda de todo o islamismo na sua luta contra a invasão do Ocidente. Israel sai da guerra desprestigiado e fragilizado interiormente porque pouco a pouco israelenses descobrem que a guerra foi uma ilusão, uma imprudência sem inteligência política, um gesto absurdo de violência gratuita. Deixemos aos comentaristas militares a tarefa de analizar as razões do erro estratégico . É bem possível que com o vingança os israelenses aumentem a sua opressão dos palestinos. O que eles queriam seria que todos os palestinos fugissem do pais. Muitos já fugiram, mas é pouco provável que consigam a saída de todos. Em todo caso o Hezbolla poderá recrutar muito combatentes entre eles.

Com isso, parece que os Estados Unidos desistiram pelo menos momentaneamente do projeto de atacar a Síria e o Irã. O fracasso da sua política no Iraque não os anima muito.De fato a resistência no Irã seria muito mais forte do que no Iraque.Visivelmente o exército norte-americano não foi preparado para enfrentar o novo tipo de guerra, que é a guerrilha popular com a ajuda do povo ou de grandes setores do povo, escondendo os soldados que vão sacrificar-se para atos de terrorismo. As armas mais sofisticadas não conseguem vencer a mobilidade e a sorpresa dos militantes sunitas escondidos pela população.Uma população resistente pode vencer o exército mais sofisticado do mundo.

O segundo grande acontecimento é a guerra pelo petróleo. Os preços vão subindo e as previsões são que vão subir mais ainda.Os Estados Unidos precisam de petróleo e de fontes seguras. Por isso, procuram controlar todo o petróleo da Africa. Conhecem a precariedade do petróleo do Oriente Medio. Até agora conseguiram manter as ditaduras dos paises árabes grandes fornecedores de petroleo, mas dada a agitação no mundo árabe, revoluções podem ocorrer tanto na Arabia saudita como no Koweit e nos Emiratos.Os Estados Unidos precisam do petroleo latino-americano. Por enquanto podem contar com o petroleo mexicano. Precisam do petroleo da Venezuela o que constitui como uma imunidade para Hugo Chaves. Uma invasão da Venezuela poderia prejudicar a produção de petroleo.

Recentemente aparecem sinais de possível recessão econômica, o que produziria consequências nefastas na América latina porque todos exportam para os Estados Unidos e não seria tão fácil encontrar novos mercados diante de uma recessão globalizada.

A Europa exerce cada vez menos papéis importantes no mundo. Sobretudo desde a abertura aos novos membros, está cada vez mais alinhada aos Estados Unidos. Os novos membros são todos satélites dos Estados Unidos e Inglaterra conduz a manobra de integração na política americana. Na guerra do Líbano, Europa não teve nenhuma interferência. Assistiu à destruição do Líbano sem reagir.

As potências emergentes, China, India,Japão e agora Rússia em via de recuperação ainda não ameaçam a liderança mundial,nem a potência econômica, nem a potência política, cultural ou militar dos Estados Unidos. No entanto há sinais de possibilidade de crises daqui a meio prazo. Já que a direita religiosa tomou conta da política do atual governo, pode se esperar um endurecimento da violência, novas intervenções militares, e mais controle interno pelos serviços secretos. As liberdades democráticas estão cada vez mais ameaçadas. O partido religioso dominante não tem nenhum interesse na democracia. Quando um Imperio é decadente, aumenta a violência para se manter.

 

 

Se examinamoso outro ladodo mundo, o que está acontecendo ? Na Africa há alguns progressos mas Africa está longe de desempenhar um papel mundial, salvo como fornecedor de materias primas, sobretudo petroleo e metais.

O Sudeste asiático é cada vez mais o centro do comercio internacional e irá crescendo.Os “tigres” asiásticos fornecem um modelo que envolve cada vez mais os países do setor: China tem a liderança, depois vem Coreia do Sul, Taiwan, Singapore, Indonesia, Vietnã, Filipinas, Malasia, Tailandia. Com o Japão, ali se constitui o centro econômico do futuro.

América latina está entrando num processo de mudança política. Na frente da mudança está Venezuela com Hugo Chaves. Hugo Chaves é presidente de Venezuela contra toda a burguesia, contra os meios de comunicaçào, contra as forças econômicas e culturais, contra a Igreja que está na frente na luta em contra dele.Ele se mantem firme graças ao apoio sem falha das massas populares. É a entrada das massas populares na política, fator relativamente novo embora houvesse precedentes como Getúlio Vargas, Peron.As massas levantam-se em contra da classe dominante. Desaparece a aliança tradicional entre os mais ricos e os mais pobres. A aristocracia tradicional já não consegue manipular os pobres. O que aconteceu na Bolívia confirma. No Equador o movimento indígena já conquistou várias posições. As eleições do México mostram um fenômeno semelhante apesar da fraude que acabou fazendo de Calderón o presidente. Jamais um líder popular conquistou tanta adesão das massas`populares como Obrador, salvo naqueles tempos de EmilianoZapata.

Na Argentina com Kirchner parece que acontece algo semelhante e também no Brasil com Lula. A adesão das massas a Lula significa uma ruptura do laço de dependência dos caiques tradicionais.Isto significa que as massas populares se tornam virtualmente uma força política por primeia vez na maioria dos países latino-americanos. O problema é que as massas populares não têm projeto de sociedade. Querem sobreviver, as suas expectativas são muito curtas. Elas querem crescer e melhorar de vida mas não sabem como e olham para o lider popular como para um salvador que mostra o caminho. Não têm muitas ilusões e sabem que a mudança será longa e difícil.

 

 

Uma coisa fica clara: as nações latino-americanas somente poderão se salvar se se unem. Já não se pensa que seja possível fazer uma revolução num só país. Bem se sabe que um só Estado não tem capacidade para lutar contra o sistema imperial.Hugo Chaves é o motor da unidade latino-americana. Conseguiu formar o eixo Caracas-La Paz-La Havana. Conseguiu entrar noMercosul, e conseguiu reunir os dirigentes políticos do Mercosul com Fidel Castro em Córdoba, coisa impensável há somente poucos anos atrás. Os Estados Unidos nada puderam fazer para impedir esse acontecimento simbólico.Ainda há um longo caminho para percorrer mas pelo menos o movimento começou, a máquina da união latino-americana já está em marcha.

 

  1. A economia mundial

 

Um dos fatos mais importantes é que a maior parte do capital se destina à especulação. O mundo trabalha para que uma pequena minoria possa enriquecer graças ao jogo dos capitais. Geram capitais para que com isso os donos do capital possam aumentar esse capital. Por isso apareceu uma classe de bilionários. Algumas centenas de pessoas têm mais do que bilhões de subdesenvolvidos. Os salários dos executivos são 300 vezes superiores ao salário da media dos empregados e eles gozam de vantagens diversos: residência, viagens, prêmios, Estamos voltando a uma situação social semelhante à situação da antiguidade: uma aristocracia que recebe o equivalente de salários de milhares ou de milhões de dependentes, exatamente com o no Império romano.

Alguns latino-americanos pertencem também àquela aristocracia, sobretudo mexicanos e brasileiros.Os grandes capitais não servem para investimentos. Não faltam capitais, mas a falta uma autoridade mundial que queira orientar os movimentos dos capitais.Os Estados Unidos poderiam exercer esse papel, mas sào justamente eles que exercem o poder imperial que mais proveito tira desta situação, não o povo dos Estados Unidos mas a aristocracia financeira que nunca teve tanto poder na política. As Nações Unidas não têm nenhuma autoridade na economia mundial. Os capitais que poderiam servir ao desenvovimento da humanidade inteira, servem para enriquecer uma pequena classe que já tem uma riqueza exorbitante.

Os paraisos fiscais são o sinal mais claro da cumplicidade das grandes potências nos jogos da especulação dando cobertura inclusive ao dinheiro sujo dos comercios ilegais : drogas, armas, prostituição.

Há autores que anunciam uma crise econômica inevitável nos Estados Unidos, pelo fato de que os americanos vivem do dinheiro recebido do exterior, sobretudo da Asia já que esses paises compram tudo o que o Estado emite como papel. Aumentam a dívida dos Estados Unidos mas permitem que mantenha um alto nivel de gastos. O mundo inteiro suistenta a riqueza e o poder dos Estados Unidos.

Alguns mostram que o declínio econômico leva a potência decadente a buscar na guerra outro meio de reforçar o seu poder. Se os Estados Unidos se lançam numa novaguerra, esta pode precipitar a crise.

Uma crise dos Estados Unidos poderia provocar uma crise generalizada do capitalismo.

As grandes potências praticam o proteccionismo que proibem às outrasnações. Exigem a livre entrada dos seus produtos, mas não concedem essa liberdade aos outrtos. O livre mercado é imposição ao Terceiro Mundo, mas as potências protegem o seu mercado. O caso mais comentado é o dos subsidios à agricultura que faz com que elas possam vender a preços muito mais baixos e impedir a importação. Em certos casos os subsidios nos Estados Unidos podem alcançar 40%.

América latina começou a reagir. O Brasil já conseguiu que a COM condenasse os Estados Unidos, que naturalmente não vão aplicar a sentença.A nacionalização dos hidrocarburos na Bolívia e no Equador é um sinal do despertar de uma nova consciência.

O problema é que uma grande parte da produção está nas mãos de multinacionais. A proporção atinge 50% da economia no Brasil e mais ainda em outros países.Isto permite às multinacionais exercer pressões muito fortes. Não se tem condições de prescindir das multinacionais, salvo se a população aceitasse anos de restrições de consumo até que as empresas nacionais sejam capazes de produzir no mesmo nível das multinacioinais.A situação atual suscita temores. As multinacionais estão conquistando a terra e monopolizando a produção agrícola. A Monsanto está realizando o seu projeto de controlar toda a agricultura da América latina. Isto inclui a propiedade das terras. Na Argentina o processo está muito adiantado. No Paraguai já é fato consumado, e noBrasil a conquista do agronegócio por multinacionais avança muito depressa.

 

  1. A situação social

 

Programas sociais permitiram diminuir um pouco a distância entre ricos e pobres e diminuir a extrema pobreza. Era uma tarefa urgente. Apesar disso, o problema permanece. A desigualdade contina ameaçando a homogeneidade das nações. Uma pequena classe de bilionarios ou quase bilionários cresce em extensão.As classes medias não conseguem crescer o suficiente para poder comprar tudo o que o mercado oferece. Os pobres continuam afastados da vida naciional ainda que possam comer um pouco mais e melhorar o nivel de instrução dos seus filhos.

A classe dos camponeses continua diminuindo, expulsa das terras pelas multinacionais que dispõem de todos os meios e das técnicas da produção, da comercialização e gozam de capitais. O dia não está longe em que o último camponês fechará a sua casa para irse a viver na cidade, ainda que sem empego, sem segurança, sem possibilidade de integração na economa formal.

Cresce a economia informal e está destinada a crescer até o momento em que a sociedade mude completamente de estrutura. Não faltam capitais para promover empregos, mas o rendimento da criação de empregos é bem menor do que o rendimento da especulação financeira.

Os Estados começam a reagir às pressões das forças financeiras para investir mais no social, mas os recursos ainda permanecem limitados dentro do quadro economico atual.

Um ponto interessante é o reaparecimento de Cuba na America latina, graças a Hugo Chaves.

Muitos tinham anunciado que o regime de Cuba não resistiria à desintegração da União soviética. Nada disso aconteceu. Cuba continua. Diante disso muitas pessoas começam a descobrir que em matéria de educação e de saúde Cuba poderia ensinar muitas coisas aos outros países latino-americanos.

Permanece o desafio da qualidade do ensino. Há boas escolas para os ricos, para prepará-los para manetr o sistema, mas o ensino popular é escandaloso. A escola primaria não ensina nada e somente ensina aos alunos a preguiça, a indiferença, a arte de enganar as leis por subterfúgios.Agora que não tem mais provas, podem chegar ao final do curso fundamental sem aprender a ler nem a escrever. O ministerio da educação publica documentos muito atualizados teoricamente, mas sem referência à situação real do povo. Sas documentos que ninguém lê e ninguém aplica.

 

B. Mudança teológica.

 

  1. A concepção da história

 

A teologia da libertação da fase antiga ficou influenciada pela concepção da históra da modernidade e era difícil que fosse de outra maneira. A modernidade inventou o conceito de história como uma escatologia secularizada. Era inevitável que acontecesse, uma vez que as Igrejas perderam legitimidade por causa das guerras de religião. Uma vez que a religião era causa de guerras intermináveis, a saída devia estar por outro lado: Seria uma historia sem religião, secularizada. Porém, os modernos endenderam a história como um processo desembocando num fim da história no mundo atual. A ewscatologia cfristã ficou secularizada. O que as Igrejas anunciavam para a entrada do novo mundo após o desaparecimento deste, foi transferido para o final da história A história é uma sucessão de fases que finalmente desembocam num estado definitivo. A Igreja tinha fracassado como fator de crescimento humano. Agora a razão emancipada e libertada realizaria o reino de Deus na terra de modo definitivo. O reino da razão seria o reino da paz perpetua por meio da racionalidade.

Hegel foi o maior representante dessa concepção da história.A história caminhava em forma de progresso da razão até alcançar a fase racional final cujo passo essencial foi a Revolução francesa que destruiu tantas instituições irracionais do passado : monarquia, nobreza, Igreja, controle dos cidadãos, controle da economia, controle da cultura e assim por diante. Existe nesta terra uma fase terminal e definitiva que é o advento da idade da razão.

Marx partiu da intuição de Hegel: existe uma etapa definitiva na história da humanidade que seria o comunismo.Porém a Revolução francesa não realizou o que lhe atribuia Hegel, e na realidade abriu o caminho para o capitalsmo. Devemos esperar uma revolução social que ultrapasse o capitalismo, instale o socialismo e depois disso o comnismo. Haveria uma revolução social que faria desaparecer o domínio do capital e entregaria o poder aos trabalhadores. O que aconteceu foi a desintegraçào do Império russo e as portas abertas para o nacionalismo de cada povo do antigo Império russo. O capitalismo ainda reina e mais do que nunca. Ele se ofefrece agora como o estado final da humani9dadce, a abertura de uma humanidade feliz,orientada pela razão, ou seja pela razão científica, da qual aws multinacionais são as donas.

Agora, ficou evidente que a história não é assim como a modernidade tinha pensado. Não há ponto de chegada definitivo. Essa idéia foi possível ou pensável quando se pensava em função da nação, cada nação formando uma entidade completa. Era possível mudar a estrutura da nação.Era algo concebível. Hoje em dia não é mais concebível, porque todas as nações estão imbricadas umas nas outras e a questão social se tornou muito complexa.. Não existe mas nação independente, salvo os Estados Unidos que são a nação imperial. Todas as outras estão atravessadas por tantas comunicações, tantas dependências que não se pode mais pensar a história como revolução de uma nação independentemente das outras.

Descobriu-se que não há revolução total que mude a sociedade completa. Não há autoridade que seja capaz de atingir todos setores da vida social globalizada. Todas as revoluções mudam um aspeto da realidade, mas deixam que sobrevivam muitas estruturas do passado e permitem a entrada de novas estruturas que escapam às previsões do poder nacional.Constituem passos positivos, mas não formam uma sociedade definiva. Formam uma sociedade híbrida em que há convivência de elementos do passado e elementos revolucionários. Pode haver um fanatismo revolucionário que destrói tudo o que resiste à revolução, mas isso pode levar a um verdadeiro suicídio coletivo, o que mostraram os exemplos da França ou da Rússia ou atualmente da Coréia do Norte. Mas depois da Convençào veio Napoleão e depois de Stalin veio Kruchov. Na Coréia do Norte a tragédia é maior porque ainda não apareceu um novo Kruchov

Haverá alguns acontecimentos significativos que abalarão as estruturas, mas serão apenas movimentos parciais e provavelmente não simultâneos em todas as regiões do mundo.Simultaneamente haverá movimentos de mudança nos diversos setores: nova cultura, nova educação, nova saúde, nova política ambientalista, e assim por diante. Tudo isso está inscrito num movimento global. Mas este é tão amplo que já não podemos pensar que um 14 de julho possa mudar a humanidade.Podemos prever que haverá várias etapas bem diferentes. A história não obedece a uma lógica racional, hoje menos do que nunca embora as grandes forças economicas tão concentradas tenham a ambição de dominar a história colocando-a a serviço dos seus projetos.

Por outro lado, as datas dos grandes acontecimentos são imprevisíveis e não seguem as linhas da previsão dos movimentos revolucionários.

Outro elemento é que a história continua. Quando se produz uma revolução, ela já é obsoleta em varios aspetos e já se deve preparar a seguinte, porque já estão presentes as forças que vão exigir outra mudança..

Este movimento de mudança incessante resulta em parte do fenômeno das gerações. Uma nova geração pode abandonar a tarefa inacabada da geração anterior, e começar outra obra que deixará também inacabada. A história humana é feita de obras inacabadas.Não podemos ter a ambição de pensar que as gerações seguintes vão simplesmente continuar o que fizeram as gerações anteriores.Isto não pode impedir o movimento em vista das mudanças necessárias.

O reino deDeus não tem realização completa na historia porque é um processo sempre inacabado que é preciso sempre recomeçar, cada vez em circunstâncias diferentes. Mas isto não pode ser um pretexto para sair da história. Precisa entrar nela e trabalhar nela embora se saiba das limitaçòes de tudo o que fazemos. Todas as vezes que se buscou uma realização completa do reino de Deus, foi um desastre. Primeiro houve a cristandade que se identificou como a maior e única definitiva realização do reino de Deus na terra até a segunda Vinda de Cristo. Não se podia esperar nenhuma novidade até a Parusia: era a doutrina dos escolásticos e era naturalmente a doutrina da hierarquia daquele tempo.. A cristandade fez oposição a todas as forças de mudança querendo manter estruturas insuportáveis ( manter a dominação do clero, da nobreza, da monarquia absoluta). Veio o reino de Deus secularizado da modernidade que foi a obra do século XIX e sobretudo do século XX. Houve a tragédia das duas Guerras Mundiais. Esta versão do reino de Deus está atingindo o estádio de descomposição.Hoje em dia a ideologia oficial dos Estados Unidos anuncia que o atual Imperio americano é a paz definitiva, a autêntica realização do reinode Deus na terra. Desta vez não se trata mais de uma versão secularizada mas de uma versão que quer ser religiosa e cristã.. Ora, já aparecem claramente os primeiros sinais da sua decadência.

A humanidade é um longo processo de procura do ser humano, a caminhada da humanidade em busca de si mesma. Não é um processo de continuidade, porque há o fenômeno das gerações e porque essa história é um combate entre as forças que avançam e as forças que resistem. Quem domina numa época defende os seus privilégios e se opõe a toda mudança. A história é luta.

Como é essa luta ?

 

  1. A luta

 

A mensagem de Jesus é o apelo aos pobres, fazendo dos pobres a fonte e a nergia da mudança do mundo. Não se trata da acumulaçào de forças nas mãos dos pobres como pensaram muitos revolucionários pondo nas mãos dos pobres armas. Nesse momento já não são mais pobres, mas são partes de um sistema de poder. Os pobres são os que não têm poder, dispõem apenas dos seus braços, dos seus pés, e da sua palavra. A mensagem de Jesus não é que é preciso ter compaixão pelos pobres, que é preciso ajudá-los. Nesse caso os pobres seriam apenas objetos dos outros. Não seriam fatores de mudanças. A mensagem é que a força de Deus está com eles e que eles vão mudar o mundo, estabelecendo o reino de Deus – naquela forma que dissemos.

Por si mesmos, os pobres não se movem, mas ficam esmagados pelos que os exploram e os dominam. Vivem no medo e no sentimento da sua impotência. Conhecem momentos de revolta, mas isso leva a uma repressão que os deixa numa situação pior ainda. A tarefa dos pobres não é simplesmente revolta, mas construção de uma força coletiva que possa enfrentar as forças dominantes. Pois eles vão ter que construir uma nova forma de sociedade.

Temos vários exemplos da força dos pobres unidos, por exemplo na Venezuela, na Bolívia, no Equador, e também em experiências parciais na Argentina, no Brasil. São momentos parciais que nos permitem imaginar como seriam movimentos mas amplos ainda. Mas também na Africa do Sul. São os primeiros momentos de uma evolução que irá acumulando forças até derrubar as forças que dominam na atualidade.

Estas lutas precisam ser conduzidas por profetas e não por chefes militares ou lideres ambiciosos de poder como acontece. Os profetas despertam a esperança, o sentimento de missão, o sentimento de capacidade, a vontadede união, a disposição para sofrer e aguentar até o fim, até conseguir. Os profetas são os que sabem que a força de Deus está com os pobres. E está presente porque pretende mudar a situação da humanidade. A luta levada pelos pobres em vista de um mundo novo é o que na Biblia se expressa as vezes como luta contra o pecado, ou libertação do pecado.

Os pobres agem por meio da palavra. Uma palavra pronunciada por milhões de vozes reunidas acaba sendo ouvida, perturba, abala e com perseverança leva à ruina a dominação injusta e à opressão. Foi o que Gandhi ensinou e praticou e realizou quand a Grã Bretanha finalmente sentiu que já não tinha capacidade de dominar esse povo.

O problema é : como vão agir as massas dos pobres no contexto atual ? Onde estão os profetas ? Quais são as formas de articulação entre elas ?

Na fase da modernidade depois da Revoluçào francesa, a economia era simples, as tecnologias simples.As fabricas não precisavam de engenheiros. Hoje em dia tudo isso mudou. Naquele tempo os movimentos socialistas pensavam que os trabalhadores poderiam muito bem fazer funcionar as fábricas e que podiam substituir o patrão que só servia para tomar o lucro da empresa. Hoje em dia tudo é muito mais complicado. O patrão é múltiplo: é todo o sistema. E nada funciona sem a intervenção de muitos especialistas. Formou-se uma classe média que é feita de especialistas em todos os dominios dos saberes que intervêm na produção, na distribuição e na administração. O número de operários diminui porque as máquinas fazem cada vez mais trabalho.Mas a máquiina não funciona sem a ação de técnicos cada vez mais especializados. Cada técnico conhece apenas um pequeno setor das atividades econômicas. É possível imaginar empresas cooperativas em que toda a direção esteja nas mãos dos trabalhadores, mas isto ainda não resolve o problem a social. Com efeito hoje em dia quem trabalha em trabalhos especializados já é um privilegiado.O maior problema social já não é o problema dos trabalhadores e sim o problem a de todos os que não podem trabalhar. A estes, não se pode entregar a máquina de produção. O desafio é : o que fazer com as massas que não têm qualificação para entrar na economia moderna ? Como orientar a economia de tal modo que haja possibilidade de trabalho para todos? No momento, a economia está nas mãos das grandes multinacionais que somente querem crescer e aumentar cada vez mais os seus capitais, conquistando o mercado e transformando tudo o que existe na terra num mercado. Vão vender a terra, a água, o ar, os mares, no fim já não se poderá fazer nada sem ter que pagar. Mercado universal !

Diante dessa situação as massas pobres são os sem carteira, sem trabalho, sem segurança nenhuma. Como organizar essas pessoas ? Os movimentos sociais tradicionais não são feitos para pessoas desempregadas, que se definem pela negatividade. A única qualidade positiva é que existem. Como partir do fato da existência para fazer um povo ? Isto não é problema teológico. Mas obrigar os especialistas a encarar o problema sim é problema teológico. Como é que as Igrejas permanecem tão indiferentes e passivas diante dessas realidades ?

A tentação é grande de querer libertar e mudar a sociedade usando a força violenta. Os Impérios, as ditaduras invocam a necessidade da paz e da felicidade. Apresentam-se como os únicos que podem dar essa felicidade, mudar a sociedade e fazer dela uma sociedade justa. O discurso sempre é o mesm o desde os faraós do Egito até as ditaduras de hoje ou até o Império dos Estados Unidos. Quando os bispos aceitaram os favores de Constantino e a integração no Império com Teodosio, deram um passo que ia marcar os séculos seguintes e ainda hoje marca o destino da Igreja. Em princípio, a Igreja diz que não busca o poder, mas na prática sim ela busca o poder. Não somente houve o apoio dado às ditaduras militares, mas também o apoio às classes sociais dominantes, como na Venezuela ou na Colômbia, os acordos com Reagan e Bush filho. Sem contar os acordos com os governos estaduais, locais, municipais em que a força do governo civil atua defendendo ou protegendo a Igreja, impodo os costumes da Igreja à população. A história do cristianismo desde o século V inclui uma série interminável de recursos à violência, desde as Cruzadas, a Inquisiçào,as guerras de religião, as perseguições aos judeus, aos musulmanos, aos pagãos. Tudo isso agora é bem conhecido, mas durante séculos se contava no segredo das casas particulares quando os cristãos se achavam longe da Inquisição.

Sucede que pela violência é possível conquistar tantos benefícios. Pela violência se pode impor uma religião a um povo. Em quase todos os paises a religião foi imposta pela violência: Portugal, Espanha, França. Paises Baixos,Alemanha, Russia, Hungría, Polonia, toda a América latina., etc. A mesma coisa aconteceu em outros continentes com outras religiões.

 

O mensagem cristã e a luta por um mundo novo não excluem no presente um certo recurso à violência, não por parte do povo, mas por parte de autoridades políticas agindo em nome do povo. A política é necessária e o atributo principal da política é o uso exclusivo da violência. Pois, a humanidade está desorganizada. Há pessoas perigosas que impedem a convivência.Não é possível imaginar que vamos poder convertê-las pela pura palavra.A violência da policia é necessária. Daí a instituição da autoridade política. Esta é legítima e necessária para assegurar a segurança da comunidade em todos os níveis. O principal atributo da autoridade é o monopólio da violência. Se se permite que todos façam o que querem, se a autoridade é fraca e não consegue reprimir os perigosos criminais, a comunidade entra em pânico.

O desafio é conter essa violênca da autoridade política dentro de limites bem definidos. Estes limites são definidos por leis e Constituições.Estas são formuladas justamente para impedir os abusos da autoridade.Elas supõem um controle permanente por parte dos cidadãos. Sem esse controle o poder se descontrola e entra na arbitrariedade encobrindo muitas vezes a corrupção. O que se chama democracia é o controle da violência da autoridade pelos membros da comunidade.

Houve épocas na história em que de fato os cidadãos conseguiram controlar o poder do Estado ou dos príncipes ou dos magistrados.Mas também houve muitas épocas em que a autoridade foi capaz de cometer muitas arbitrariedades usando ou encobrindo a violência para acumular riqueza ou privilégios. Não precisamos ir muito longe para encontrá-los. A aspiração cristã consiste em reduzir o mais possível o uso da violência, mas sem expor os cidadãos aos abusos ou à liberdade dos malfeitores. No Brasil os Estados são fracos e bastante corruptos. A nível federal, a polícia federal está em progresso porque resolveu atacar o crime com energia. Foram eliminados progressivamente os funcionários corruptos e foi desenvolvida a inteligência o que é básico na atualidade já que os bandidos são muito sofisticados e são profissionais. Ainda falta muito.

Na medida em que o controle consegue reprimir ou impedir a violência privada, a democracia aumenta. Na medida em que é preciso multiplicar as medidas de violência, a democracia diminui.Em outros tempos o castigo era habitualmente a pena de morte. Hoje em dia ela subsiste somente em alguns paises, sobretudo nos Estados Unidos. No entanto, uma pena de morte clandestina ainda se aplica em diversos lugares quando os policiais matam por iniciativa própria sem controle do poder judiciário.Desde o século XVIII cresceu a campanha contra a pena de morte, que foi substituida pela pena de prisão. Esta se justifica por uma ideologia liberal que na realidade pouco se pratica por aqui. As condições do sistema carcerário são tão ruins que a prisão é muitas vezes uma forma de degradação e de destruição do ser humano que não é melhor do que a pena de morte. Essa prisão é um sistema de violência porque destrói o ser humano interiormente.

Muito depende da mentalidade popular. A famoso referendum no Brasil sobre o comércio das armas com 63% de defensores da liberdade do comércio das armas mostra que há pouca confiança na polícia e sentimentos de vingança porque acham que matar é a maneira de defender-se. Foi um revelador da mentalidade popular : a violência parece coisa natural e acham normal que uma pessoa tenha uma arma. Isto seria inconcebível em outros países.

A melhor arma é aquela que nunca se usa. Uma luta popular perseverante e organizada pode conseguir ao mesmo tempo o controle das armas pelo poder executivo, e uma polícia mais eficiente que possa controlar que suficientemente para não ter que exercer a violência. Bem sabemos que nisto o progresso pode ser sem fim e que a perfeição não existe..

 

  1. Os programas

 

O primeiro programa é de tipo assistencialista., o que não deve ser motivo de desprezo. Dado o grande número de pessoas muito pobres que precisam urgentemente dos bens imprescindíveis, comida, teto, escola, remédios, é preciso dar respostas imediatas. Não podem esperar transformações sociais. Até lá estarão todos mortos. O sistema consiste em deixar a estrutura tal qual, mas cuidar dos buracos que o sistema deixa aberto: a massa dos excluídos. De certo modo é o que acontece na Venezuela, no Brasil , no Chile e outros paises, ainda que em muitos nem isso existe a não ser em forma pouco significativa.

A vantagem desse sistema é que se pode realizar sem perturbar profundamente a economia e sem abriur frente de guerra com as empresas e a classe dos empresários. Além disso já que não toca nas multinacionais, não cria motivo de guerra exterior.Não resolve os problemas a longo prazo, mas pode preparar as condições.

Os recursos dos Estados são limitados o que limita a política dce beneficência. Além disso à medida que os pobresvão melhorara sua condiçào, as aspirações irão crescendo e também a sua capacidade de organização.Essa política acalma a curto prazo, mas prepara agitação social para mais tarde.O caso de Venezuela é especial num ponto: Chaves conseguiu recuperar o petróleo, mas a tarefa foi facilitada`pelo fato de que não atacava diretamente as grandes multinacionais.

 

Outro programa consistiria emn desenvolver os movimentos sociais. Assim fizeram os indígenas e conseguiram constituir forças sociais importantes que já são fatores políticos, pelo menos nos paises andinos.Há movimentos sociais que crescem, mas ainda falta muito. Precisam também do apoio do Estado. Claro que não podem ser anexos do Estado para não cair na corrupção ou transformar-se em burocracias ineficientes. Mas sem um minimo de apoio o crescimento da sua força é lento. No Brasil os movimentos sociais ainda são numericamente fracos e nenhum tem o poder de mobilizar milhões de cidadãos como seria necessário. Movimentos sociais poderosos serão necessários em todas as fases da transformaçào.

 

O programa de desenvolvimento escolar, comum a todos os paises. O problema é a qualificação : que programa com que finalidade ? Quais são as perspectivas abertas ? Os protestantes têm a perspectiva da Biblia,, os socialistas tinham a perspectiva de ler e entender a literatura revolucionária. O que é que estimula agora ? Devemos confiar no Internet ? O que se busca no Internet ? Como orientar ? Na questão da formaçào dos professores, falta muito. A questão depende muito do tipo de sociedade que se quer promover.

 

O controle do movimento de capitais : a taxa Tobin que suscitou tanta indignaçào dos meios financeiros.Somente com a cordos internacioinais.

 

Controle dos paraisos ficais: somente por uma ação popular muito forte.

 

Controle do comercio internacional por organismos mundiais; o comercio é interior às multinacionais. Porque se impõe aos países mais fracos uma abertura do mercado que os grandes não praticam ?

 

Politica ambiental : envenenamento das terras cultivadas, os rios e a água, a poluiçcào dos rios, poluição do ar, energias alternativas menos poluentes, proteção das selvas e politica de administração racional das selvas.

 

O problema do trabalho e as alternativas. Será o problema básico. Produtos naturais, produtos de artesanato em lugar de produtos industriais. Uma civilizaçào de menos consumo, estabelecendo um modo de viver com menos consumo.

 

Controle da riqueza, limitação da renda individual. Taxaçào das heranças. Exatamen te o contrário da política Bush nos Estados Unidos que se oferece como exemplo aos outros países.A concentração das empresas por meio de fusões prepara o terreno para que um dia uma instância internacional possa administrar e criar uma empresa mundial controlada por representantes dos povos.

 

Renegociação da dívida externa e interna. Sem isso o Estado não terá força para promover uma verdadeira política em todos os setores.

 

Pode-se perguntar qual seria a intervenção das religiões nesses processos? De modo geral as religiões são conservadoras. Estão ligadas a estruturas mais antigas e temem que mudanças sociais prejudiquem o poder que ainda têm na sociedade.No entanto as religiões podem alimentar um nacionalismo forte quando sentem que outras religiões as estão ameaçando. O Islamismo é uma força dce resistência muito grande contra a conquista pelos cristãos.Na India o hinduismo foi uma força grande contra o império muçulmano que a dominou durante séculos. No Tibete o budismo é uma força de resistência à conquista chinesa.Na América as religiões tradicionais procuraram preservar a identidade dos povos conquistados. A mesma coisa aconteceu com os escravos africanos na América latina.

O que poderiam ser as religiões atualmente ? Na América latina elas poderiam alimentar o nacionalismo contra o Império. Há duas dificuldades. A Igreja católica está muito ligada às classes dominantes e estas estão muito associadas ao Império. As classes dominantes não são nacionalistas, mas preferem a integração dentro do sistema imperial que lhes garante uma posição privilegiada. O Império sempre busca aliança com as classes dominantes e estas procuram apoio na força imperial contra as possíveis forças populares.Quanto às Igrejas protestantes, quase todas procedem dos Estados Unidos e conservam laços culturais e afetivos com a mãe pátria.

O que aconteceu com as tentativas nacionalistas dos anos 60 e 70 é muito significativo. Uma pequena minoria das Igrejas aderiu à causa dos pobres, aquela parte das Igrejas que tinha implantaçào no meio dos pobres. Mas agrande maioria permaneceu fiel às classes dirigentes. Os bispos e sacerdotes que se comprometerem, foram perseguidos pelas elites locais e inclusive pela maioria do episcopado e do clero, salvo no caso do Brasil.Não há sinais de que a situação possa ser melhor na atualidade. O mais provável será que as transformações sociais serão feitas contra a resistência das Igrejas. IA Igreja romana está muito ligada aos Estados Unidos e nada poderá fazer que prejudique o Império. A sua liberdade de ação é muito limitada. Pode ser que o Papa atual queira reconquistar uma certa independência. Não é polonês e não é visceralmente anticomunista. No entanto, a sua capacidade de autonomia é muito é limitada.

Diante do triunfo da nova fase do capitalismo, as Igrejas procuraram definir com mais vigor a sua identidade. Procuram dar nova vida a todo o sistema simbólico tradicional. Recorrem aos meios de comunicação para dar mais força à sua mensagem. Mas esta é necessariamente conservadora. Há como sempre algumas personalidades que se separam do conjunto e tomam posições pessoais mais avançadas.

As novas correntes nas Igrejas procuram entrar na cultura contemporânea. Esta é uma cultura espectáculo. Passou o tempo da racionalidade e do discurso racional. Agora o pregador, pastor, apóstolo, etc. é um ator ou uma atriz. Precisa, por meio de exercícios emocionais, atingir a identificaçào como seu público.Deve fazer milagres, para mostrar teatralmente a força do Espírito. Oferece Jesus como meio parar resolver todos poblemas : doença, desemprego, intrigas, problemas de casais, e assim por diante. É a teologia da prosperidade que promete e da símbolos de uma felicidade já vivida nesta terra. O mundo futuro depois da morte já não interessa muito. O que atrai é a promessa de felicidade já agora.Não há mais comunidade. Os participantes são como o públ;ico de um espectáculos. Podem reunir-se para fazer comentários, mas não se reunem para mudarde vida. Os representantes da hierarquia e do catolicismo tradicional não estão muito encantados, mas apreciam o valor dos movimentos pentecostais porque atraem multidões e também atraem muito dinheiro.

A teologia oficial volta a legitimar simplesmente o sistema católico restaurado. É uma teologia institucional como foi durante o tempo da cristandade. No entanto sempre há alguns dissidentes e não faltarão. O seu surgimento é imprevisível. Não há nem fábrica nem modelo que possa reproduzi-los. Estarão em contato com os novos movimentos e as transformações Mas não sabemos nem o dia nem a hora. Sabemos que vai haver outra época na história da humanidade e da América latina, mas não sabemos quando.

 

 

Devemos fazer a distinção entre o evangelho de Jesus Cristo e a religião cristã. A religião é criação humana. Todos os povos têm uma religião e não podem viver sem religião. Também os povos que aceitaram a pregação cristã, com ela e com muitos elementos das suas antigas religiões, também com inspirações novas construiram uma religião, ou melhor dito, várias religiões. A religião está sempre marcada pela região e pela cultura de cada povo. As religiões são conservadoras porque orientam as atividades para o mundo do símbolos e tendem a esquecer a realidade concreta, prática e corporal.

O evangelho de Jesus não tem marca regional ou cultural, tem uma marca social. O evangelhode Jesus dirigte-se aos pobres, pois é uma mensagem de esperança para os pobres, os oprimidos, os sem-poder. Pobres há em todos os povos e por conseguinte a mensagem vale em todos os povos. O evangelho é fermento de mudança, de ascensão dos oprimidos, de libertação dos pobres. Na realidade histórica o evangelho ficou muitas vezes encoberto ded tal maneira pela religião que perde todo o seu vigor e desaparece como tal.

Estamos assistindo a uma resurreiçào das religiões, mas não necessariamente do evangelho. Isto depende de nós.

 

 

 

 

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