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José Comblin, junto com os empobrecidos e empobrecidas de hoje, assumindo o Projeto de Jesus: Relato da Primeira Jornada Comunitária da XV Semana Teológica Pe. José Comblin

José Comblin, junto com os empobrecidos e empobrecidas de hoje, assumindo o Projeto de Jesus: Relato da Primeira Jornada Comunitária da XV Semana Teológica Pe. José Comblin

 

Conforme programada, teve lugar sábado, dia 19/07/2025, a Primeira Jornada Comunitária da XV Semana Teológica Pe. José Comblin (XV STPJC), na Comunidade Nossa Senhora de Fátima, no Alto das Populares, Santa Rita-PB, tendo como tema central o que está indicado no título deste texto.

 

Dela participaram componentes dos diversos grupos co-organizadores da XV STPJC, bem como membros da comunidade local e outras comunidades, quem temos a alegria de nomear, por grupos: Grupo Fraternidade Refúgio dos Pobres (Fátima Maciel, Roberto, Eliete, Seu Uca (José), Jaciara, Severino dos Ramos), além de Galberta e Arimatéia; Grupo Caminhos de Liberdade (Ana, José Carlos, também membros da Associação dos Missionários e Missionárias do Campo, e Alder Júlio); Grupo José Comblin (Elenilson, João Batista e Wanceley); Grupos CEBI e Kairós (Edna, Glória, Lenilton, Lúcia, Inês, Aparecida e Alder Júlio).

 

Por volta das 08h30, as pessoas foram sendo recebidas calorosamente pelos membros da Fraternidade Refúgio dos Pobres. Como coordenadora dos trabalhos da manhã, Aparecida convida as pessoas presentes a tomarem assento no salão comunitário Nossa Senhora de Fátima, passando a fazer a acolhida de todos, dando as boas-vindas e sugerindo uma roda de apresentação. Na sequência propôs um momento espiritualidade, para a animação do qual convidou Glória, que nos propôs escutar o canto “Faz escuro, mas eu canto” (de Thiago de Mello, poeta amazonense, e Monsueto Menezes). E seguida, Glória propôs a leitura da poesia de Mauro Iasi, “Quando os trabalhadores perderem a paciência”.

 

Retornando a palavra a Aparecida, esta cuidou fazer uma breve memória biográfica do Pe. José Comblin, homenageado das Semanas Teológicas, hoje já em sua 15ª edição. Em seguida, rememorou os temas vivenciados nas Semanas Teológicas precedentes, iniciadas em 2011, data da Páscoa definitiva do Pe. José.

 

Antes de prosseguir com as demais atividades, e após consultar as pessoas presentes, ficou acordado fazer um intervalo para uma merenda de confraternização preparada e compartilhada pelas pessoas participantes.

 

Dando continuidade ao encontro, a coordenação retoma os trabalhos propondo a leitura do texto reflexivo preparado para as Jornadas Comunitárias, seguido de três questões para serem trabalhadas em pequenos grupos, e depois debatidas na assembleia.

 

Quanto ao texto reflexivo, intitulado “Vivenciando a XV Semana Teológica Pe. José Comblin”, trata de passagens axiais do livro “Jesus de Nazaré” (Vozes, 1971), de autoria de José Comblin, cuja leitura foi feita conjuntamente pelos participantes, e do qual destacamos os seguintes aspectos:

- que “o relacionamento de Jesus com seus discípulos não pode ser compreendido fora do quadro da missão”, ou seja, “tudo está subordinado à missão”;

- que o aspecto da “liberdade” estava presente na pessoa e no discurso de Jesus; que “a libertação e a liberdade eram o núcleo da sua mensagem (“Fostes chamados, irmãos, à liberdade” (Gl 5,13)0; que “a liberdade era e devia ser um modo de ser, uma forma de vida coletiva e pessoal com outra qualidade”;

- que não há distinção entre os povos, “todos são membros da mesma aliança”; que a “aliança” é “um pacto em que todos os seres humanos ligados ao mesmo Deus se unem uns aos outros”; em que “todos os são iguais entre si” e que “as diferenças entre eles seria apenas no serviço”, “um povo de irmãos, todos unidos por um mesmo pacto e uma aliança de fraternidade, todos iguais e respeitosos uns dos outros”;

- que “era preciso ressuscitar o povo adormecido pelos maus conselheiros, paralisados por uma religião de preceitos e de obras, de temor e de rigor que lhe tirava completamente o espírito de liberdade e a perspectiva da vocação universal.”;

- que era preciso estar atento para não serem enganados pelos “falsos profetas”;

- que “o que importa não é invocar constantemente o nome de Deus, e sim viver de um modo tal que corresponda à vontade do Pai”; que a vontade Pai é a realização, neste mundo, do seu plano e o cumprimento da missão que ele confiou aos seus discípulos;

- que “Jesus não inventou nenhum culto, nem praticou nenhum culto: porém ele veio para servir e dar a vida em resgate para a humanidade”; que o Pai não quer homenagens nem louvores, Ele quer que a missão de servir a humanidade seja cumprida”;

- que “Jesus obedece ao Pai, não no templo de Jerusalém, oferecendo sacrifícios, e sim nas estradas da Galileia, realizando a sua missão de pregador, taumaturgo e testemunha”;

- e, por fim, a constatação de que “a aceitação radical de sua missão tornou Jesus uma pessoa livre e despreocupada em relação aos acontecimentos e às situações do mundo exterior”; de que Jesus “ficou livre do medo, das preocupações, da angústia que não abala a sua personalidade.”, a exemplo das expressões: “Não estejais preocupados por causa de vossa vida (...), Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã, porque o dia de amanhã trará os seus cuidados. Basta a cada dia o seus cuidados” (Mt 6,25-34).

- que “na ideia de Jesus o Reino de Deus reunia todos os aspectos da sua esperança: sintetiza tanto a meta final como as provações e as resistências”.

 

Dando continuidade aos trabalhos, a assembleia distribuiu-se em três grupos, a cada qual foi proposto trabalhar uma das três questões: Grupo1 (À semelhança (ou diferentemente) do tempo de Jesus, na Galileia, e de outros tempos, que outros rostos de empobrecidos e empobrecidas podemos observar, em nossos dias?); Grupo2 (Em nossas Igrejas atuais, cresce a tendência ao louvor, à adoração e ao extremo devocionismo. Como Jesus testemunhava sua obediência ao Pai?); Grupo3 (Que experiências e práticas ensaiadas entre nós nos ajudam a dar razão à nossa Esperança (cf. I Pd 3:15)?).

 

Síntese das discussões:

 

O Grupo 1, composto por Edna, Eliete, Ana, Severino dos Ramos, João Batista e Cida, fez sua reflexão a partir da pregunta: À semelhança (ou diferentemente) do tempo de Jesus, na Galileia, e de outros tempos, que outros rostos de empobrecidos e empobrecidas podemos observar, em nossos dias?

 

O grupo, inicialmente, tratou de identificar quem eram os empobrecidos e empobrecidas do tempo de Jesus, e destacou seguintes sujeitos: a viúva, o órfão, a criança, o aleijado, o leproso (o doente), a prostituta, o estrangeiro. Em seguida procurou contextualizar cada um/cada uma com os/as pessoas empobrecidas dos dias de hoje.

 

1. Iniciaram a referência ao Pobre com o reconhecimento do público que hoje é acolhido pela Fraternidade do Refúgio dos Pobres. Estas pessoas: os discriminados, vítimas de LGBTfobia, vivem em situação de abandono, famintos, doentes, correspondendo aos empobrecidos e as empobrecidas de hoje. Vítimas do modelo de sociedade vigente, estes são invisibilizados, discriminados, rejeitados, abandonados, nem alcançados pelas políticas pública de assistência social. E são, predominantemente, o preto, pobre, viciado/drogado, homoafetivos.

 

2. Ao fazer referência ao doente, o grupo levantou a questão do “doente mental” e destacou que no tempo de Jesus estes eram entendidos como endemoniados, e que nos tempos atuais, algumas Igrejas usam do artifício da possessão para a prática do exorcismo e a espetacularização em seus cultos e/ou missas. Também foi lembrando que graças à luta anti-manicomial, se promoveu, para o tratamento de doenças mentais, a criação dos atuais CAPs.

 

3. Quanto ao idoso, foi lembrado que o modelo capitalista, com a super-exploração do trabalho, tem deixado as famílias em condições precárias quanto a disponibilidade de tempo para o cuidado dos seus idosos, e que, muitas vezes, são obrigadas a deixá-los em situação de abandono.

 

4. Ao fazer referência ao órfão trouxeram a lembrança da condição da criança, nos tempos de hoje, vítima de violência muitas vezes pelo abandono do cuidado em função da condição de trabalho das mães, principalmente as mães-solo, que precisam trabalhar para garantir o sustento da casa.

 

*Não esquecer que tal questão que nos remete também ao desmonte das leis trabalhistas que levou à precarização do trabalho.

 

4. Em referência à prostituta o grupo trouxe para reflexão a questão do preconceito sofrido pelo público LGBTQIA+ muito presente na sociedade, inclusive no seio familiar. Lembrou-se ainda que há um movimento de resgate da identidade deste público que tem buscado ressignificar e utilizar as mesmas expressões anteriormente a eles atribuídas de forma pejorativa (do tipo “veado”, “sapatão”).

 

5. Relacionou-se o estrangeiro do tempo de Jesus ao migrante de hoje que, embora seja recebido por outros Estados, nem sempre são tratados com a dignidade devida, sofrem com o preconceito e vivem em condições de grande precariedade.

 

Ao final, já na plenária, algumas contribuições foram acrescentadas no tocante aos empobrecidos/empobrecidas de hoje: uma em relação a condição dos presidiários e outra referente à questão da mulher na sociedade. Quanto à condição do presidiário, uma reflexão sobre a questão dos Direitos Humanos junto aos prisioneiros e prisioneiras e as condições desumanas vivenciadas nos presídios, além do descumprimento do direito a um julgamento digno. Quanto à mulher, lembrou-se da violência doméstica praticada contra as mulheres, do crescimento da misoginia, inclusive nas redes sociais, e da crescente onda de feminicídio.

 

GRUPO 2, composto por Elenilson, Glória, Fátima, Roberto, Seu Uca e Lenilton, fez sua reflexão a partir da pregunta: Em nossas Igrejas atuais, cresce a tendência ao louvor, à adoração e ao extremo devocionismo. Como Jesus testemunhava sua obediência ao Pai?

 

1. O grupo verificou que o devocionismo se fortaleceu partir do papado de João Paulo II e foi continuado pelo de Bento XVI. O papa Francisco bem que tentou implementar uma igreja em saída, mas não teve o devido apoio nos meios clericais. Nesse mesmo contexto, as Comunidades Eclesiais de Base perderam força, face ao clericalismo exacerbado, onde presenciamos a maioria dos padres e agentes de pastorais descompromissados com o Evangelho de Jesus e consequentemente com as pessoas empobrecidas.

 

2. Outra constatação que fizeram é que há um exagero no que se refere ao dízimo e as comunidades que mais arrecadam ganham a simpatia do padre! “Quem tem mais, pode mais!”

 

3. Também foi lembrada as exigências cobradas, em algumas paróquias, quanto ao cumprimento de normas extremadas e sem fundamento, exigidas em determinados momentos das celebrações, como a participação na comunhão (de estar em jejum, de ter se confessado, de ser casado...). Sobre isso recomendou-se identificar nos documentos da igreja se tais exigências procedem ou não; sugeriu-se a prática da desobediência a ordens extremas, por exemplo, não declarar o estado civil antes de comungar.

*Alder: “É necessário se libertar da ‘Pedagogia do medo, da culpa, do castigo’ como ferramenta de dominação”.

 

4. Fazendo referência ao texto, lembraram como Jesus testemunhava o Pai, que era na convivência com as pessoas, no meio do povo, nos caminhos da “Galileia”;

 

5. Endossaram a necessidade da Formação contínua nos grupos de pastoral e para além destes. Uma formação que incluísse a análise de conjuntura para uma melhor compreensão do funcionamento da sociedade – “só o conhecimento liberta”;

 

6. Lembrou-se da trajetória da Igreja na base e das distintas experiências vividas, como no caso das CEBs, que na sua origem tiveram um papel preponderante na conscientização das pessoas, mas que foram perdendo força ao longo do tempo e hoje já não cumprem a sua missão, principalmente com o advento das Igrejas pentecostais e carismáticas;

 

7. Não se pode perder de vista o propósito da missão, mas tendo essa compreensão dos desafios do tempo presente; a estratégia formativa tem que ser outra. Por exemplo, executar o projeto de Francisco, o de uma Igreja em saída;

*Glória: “ninguém solta a mão de ninguém”; “a experiência aqui vivida (ou seja, a experiência das Jornadas Comunitárias), nos ajuda na caminhada”.

 

GRUPO 3, composto por Jaciara, Lúcia, Inês, Alder, Wanceley, Galberta e José Carlos, fez sua reflexão a partir da pregunta: Que experiências e práticas ensaiadas entre nós nos ajudam a dar razão à nossa Esperança? (cf. I Pd 3:15)

 

A partir das práticas e experiências vivenciadas o grupo destacou as seguintes ações que ajudam a dar razão à nossa Esperança:

1. A experiência da Missa de Militantes;

2. A experiência da Leitura Orante;

3. A participação na Romaria da Terra;

4. A experiência solidária do grupo Fraternidade Refúgio dos Pobres (com práticas de acolhimento, distribuição de alimentos e cuidados com pessoas de rua);

5. A experiência dos estudos presenciais e on-line

6. Os estudos continuados sobre teologias da libertação (Grupo Kairós)

7. Os estudos de formação política em Café do Vento (Grupo Comblin)

8. A experiência da Leitura Popular da Bíblia (CEBI)

9. As experiências de militância política continuada (movimentos sociais, sindicados, e partidos).

 

 

Já passava do meio dia, quando a plenária estava se encerrando. A coordenadora dos trabalhos, Aparecida, juntamente com Glória, responsável pelo momento de espiritualidade, agradecendo a todas e todas pela participação frutuosa, inclusive pela acolhida da Fraternidade Refúgio dos Pobres, convidaram as pessoas presentes a fazerem um círculo para a oração final, precedida de um canto, convidando a todos para a próxima jornadas, marcada para o próximo dia 23/08/2025, em Café do Vento.

 

 

Contribuição dos grupos Kairós e Cebi

 

 

João Pessoa, 24 de julho de 2025

 

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