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Marx e a Pandemia

Pe. Waldemir Santana

A cada dia que passa a situação dos pobres deste País é dramática, não só por causa da pandemia, mas também por sua situação econômica.

Estamos num tempo sombrio da história. É necessário procurarmos pensadores que nos ajudem a ver mais longe. Karl Marx esse gigantesco pensador pode nos ajudar a entender esse desumano sistema capitalista que vem imperando até hoje. A grande questão é se depois da pandemia esse sistema vai mudar. Ninguém pode garantir isso porque o sistema na sua raiz é perverso e talvez ele volte com mais garra para acumular riqueza e com menos escrúpulos para explorar pessoas. Não podemos negar que nesse tempo difícil da história com desemprego, informalidade, exclusão, fome, além da corrupção na aquisição de insumos médicos necessários para salvar vidas, as reflexões de Marx se fazem oportunas e necessárias.

A fonte mais profunda, aquela determinação material última do marxismo é a fome, a miséria e a exploração. Enquanto a sociedade for de explorados e exploradores, o marxismo será necessário para nos ajudar na superação dessa realidade monstruosa. Já mataram muitas vezes o Marxismo como também tentaram e ainda tentam matar a teologia da Libertação. Mas Marx sempre renasce porque o mundo é constituído de explorados. Enquanto houver exploração haverá Marxismo. Se nós tivermos a compreensão da determinação material da sociedade capitalista, as ideias de Marx nos ajudarão na construção de um novo arranjo social.

Quando as pessoas começarem a pensar porque não têm um prato de comida, acesso a saúde pública de qualidade, não tem terra para plantar e casa para morar, com certeza encontrará no Marxismo uma resposta e uma força revolucionária para mudar esse cenário. As contradições da sociedade capitalista fazem com que o Marxismo renasça continuamente. Se entendermos a determinação dessa sociedade baseada na exploração da força de trabalho dos pobres, Marx nos fornecerá os instrumentos que precisamos para demolir esse sistema iníquo

O que Marx propõe não é um remendo do capitalismo, mas um caminho para se chegar a uma outra configuração social, o Socialismo. O projeto marxiano e marxista é a superação da sociedade capitalista que torna ricos cada vez mais ricos a custa de pobres cada vez mais pobres.

A burguesia sempre ganhou a partir da exploração da classe trabalhadora. Hoje, essa mesma burguesia está enfurecida com esse vírus porque ele não está permitindo a extração da mais valia da classe trabalhadora que faz sua felicidade. Esse sistema que faz do capital um deus destrói a natureza, o trabalho o direito a liberdade substantiva de negros, pobres, homens e mulheres LGBTs, etc.

É mister que Marx e os marxistas nos ajudem no desvelamento das vulnerabilidades do nosso cotidiano em todos os seus matizes. Como deixar de lado nesse tempo de pandemia a relação capital trabalho? O capitalismo pandêmico que aí está age como um vírus letal sobre os trabalhadores com o objetivo de aumentar a riqueza de poucos e deixar a miséria para muitos. Uma pergunta pertinente: Por que o governo Bolsonaro e empresários querem a volta do trabalho? Essa resposta não precisa de grande desenvolvimento. Como os donos do capital não tem nenhum amor pela pessoa do trabalhador, que não passa de uma peça na engrenagem do sistema, eles voltam ao trabalho, contraem o vírus e morrem e tudo continua como antes.

A partir das reflexões desse gigante chamado Karl Marx, se o capitalismo continuar do jeito que ele vem se desenvolvendo estejamos certos de que vamos conhecer o inferno. Se essa lógica do sistema continuar o seu curso no Brasil pós pandemia, termos um número assustador de homens e mulheres vivendo na informalidade sem nenhuma seguridade social. O que Marx escreve é um petardo contra o capital que se tornou um deus e é adorado em seus templos suntuosos. Esse deus exige sacrifício humano porque o sistema em sí é sacrificial e produz vítimas diárias que superam o covid-19. Um pensador disse há algum tempo que a cada dois dias a globalização na sua expressão econômica produz um Hiroshima de vítimas.

O desejo desesperado dos empresários que querem reabrir as empresas e o comércio é porque sem trabalho não há riqueza. Quando o capitalista usa a tecnologia na produção de produtos permanece a mesma lógica agora com mais perversidade. Se produz mais para aumentar o lucro e diminuir o custo, logo o trabalhador é dispensável. Bill Gates asseverou que uma empresa no futuro só precisaria de dois seres vivos, um homem e um cachorro. Um homem para ligar a máquina e um cachorro para vigiar o homem para ele não mexer em mais nada. Em suma vida para o empresário e morte para o trabalhador.

Para Marx o tema vital é reinventar o novo mundo da vida, enquanto que para o capitalismo a questão vital é a vida do lucro. Todas essas questões que dizem respeito ao capitalismo nós conseguimos ver mais longe porque estamos sentados nos ombros desse gigante chamado Marx. Há quem diga que ele está superado. Quem pensa assim é porque nunca leu “Marx por Marx”, mas ficou restrito a comentadores questionáveis e a panfletos de capitalistas que nunca se deram ao trabalho de ler as suas obras e perceber a importância que esse gênio tem para esses sombrios tempos de capitalismo pandêmico. Para criarmos um mundo novo onde se supera a exploração da classe trabalhadora, a destruição da natureza para fins de enriquecimento de latifundiários e a superação da miséria, Marx é um caminho obrigatório.

O momento que estamos vivendo é de tragédia nas suas várias expressões e a questão que se coloca é: ou recuperamos a ideia de reinventar o mundo ou daqui há algum tempo não estaremos vivos. Por mais escuro que se faça no momento atual no Brasil por causa da pandemia e do pandemônio que é o Bolsonaro e seus asseclas, devemos cantar com Thiago de Mello: “Faz escuro, mas eu canto”.

 

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