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A CELEBRAÇÃO DA MEMÓRIA DAS LUTAS SOCIAIS E ECOLÓGICAS NO FORTALECIMENTO DA CAMINHADA

Frei Roberto Eufrásio de Oliveira

Numa fraternidade capuchinha vivi os anos 2019 e 2020, no pequeno Município Choró Limão, situado no Sertão Central cearense, na Diocese de Quixadá. Em 2019 participei ativamente no programa de trabalho do movimento sindical em sete assentamentos da Reforma Agrária. O objetivo do programa era o de preparar os camponeses para enfrentar a conversa com os funcionários do INCRA com seu programa de titularização dos lotes das famílias cadastradas. Nosso trabalho consistia na visita às famílias durante a manhã e no encontro das famílias camponesas na parte da tarde. Eu estava presente para conhecer a população sertaneja para onde fui enviado e para fazer a relação da luta pela terra e pela água com a fé no Deus criador, sua fonte originária, despertando o amor e o cuidado com a criação.

As observações que fiz em nosso trabalho me fezeram escrever estas anotações: Por que precisamos desenvolver em nosso trabalho popular, comunitário e social a dimensão da festa*. Em que a celebração ajuda a resgatar a memória das conquistas e das lições aprendidas nas lutas, a fortalecer o compromisso em continuar lutando*. O que aconteceu após a conquista da terra com os camponeses assentados no Monte Castelo*. Como se explica a situação atual*. O que foi deixado de lado na caminhada, que instrumentos presentes na etapa da conquista da terra foram abandonados*. Lembro especialmente as assembléias anuais, o fórum dos assentamentos e a celebração da entrada na Terra Prometida.

1 Nós homens e mulheres somos portadores de uma inteligência racional e de uma inteligência emocional , de razão e coração.

Essas duas dimensões precisam ser usadas de maneira articula em nossa vida e em nosso trabalho popular. Durante muito tempo privilegiamos a inteligência racional e o objetivo de nosso trabalho comunitário, social e político era conscientizar. No momento histórico atual escutamos o grito da TERRA, das ÁGUAS e dos POBRES. O agente comunitário e social no seu trabalho educativo procura ajudar as pessoas a buscar as causas da exclusão dos pobres e as causas e agentes da destruição da criação de Deus. Identifica as mesmas causas e os mesmos grupos poderosos que dominam a riqueza do País, expropriam os pobres, expulsam os ribeirinhos, os povos indígenas, as comunidades quilombolas e devastam a criação de Deus. Privatizam as águas, os rios e mananciais coletivos.

A toda hora o cidadão escuta essas informações, escuta as orientações no cuidado da vida da Terra no processo avançado de destruição e devastação. Escutam, mas nada ou pouco mudam, os proprietários de carros e animais continuam lavando seus veículos e dando banhos em seus animais nos pequenos açudes. Por que assim acontece*.

2 Quem ama cuida.

Muitos evangelizadores e lideres ecológicos estão compreendendo a necessidade de desenvolver a inteligência emocional. É preciso despertar nas populações a capacidade de amar a Terra, de respeitar as águas, de amar as aves e animais, de amar os pobres e aprender a cuidar de toda a criação, amar o Deus criador fonte da vida da Terra e dos povos. A Terra é sagrada. A água é sagrada. A vida é sagrada. É preciso juntar razão e coração, conhecimento e amor cuidadoso e recriador em nosso trabalho comunitário social e ecológico.

3 O cultivo da festa, do trabalho comunitário, social e ecológico responde a essa dimensão humana: a emoção, o cuidado, a sensibilidade, a paixão e a veneração pela vida e por todos os viventes vividas por Francisco de Assis que expressou no Cântico das Criaturas sua relação amorosa com Deus e seu respeito com tudo que é criado

Aprendemos com o povo da Bíblia a celebrar as ações de Deus em sua História, por isso criaram o calendário nacional das festas de suas libertações e deixaram registrados em seus escritos cf. Dt 16. (A) Na festa, nós cantamos nossas lutas e nossa história. Os cantos tocam nosso espírito, nos animam, nos congregam, nos ajudando a acolher e entender a Palavra proclamada e refletida. (B) Na celebração nós usamos os símbolos: a água, a terra, a luz, a tocha, a fogueira. Estes símbolos movem nossos sentidos e corações e nos ajudam a acolher e aprofundar a Palavra anunciada. Nas Romarias da Terra e das águas nós marchamos e na frente segue alguém portando uma cruz nos ajudando a ligar as nossas lutas populares à luta de Jesus de Nazaré. (C) Nos encontros usamos cantigas de roda, as danças da Palavra, apresentamos a cesta de alimento da terra conquistada, sabendo que o mesmo Espírito que estimulou a luta pela libertação da terra e dos camponeses produz em nós também o ritmo, a dança e a alegria de comer e beber juntos celebrando a vida e a liberdade. (D) A oração ou a mística, na prática das Comunidades Eclesiais de Base (CEB’s) os encontros sempre começavam com a oração. A oração é um meio poderoso para reunir as forças do coração humano em Deus, para acalmar, reunir e dispor nós humanos para estar juntos, na convivência e na escuta uns dos outros e de Deus. Os militantes dos movimentos MPA e MST começam seus encontros e assembleias com uma mística.

Conclusão.

Nós humanos somos portadores de razão e coração. Em nossa vida e em nosso trabalho de educadores populares precisamos lidar com a razão e com o coração, com a palavra, com a inteligência e com as emoções. Não basta saber que as fontes de águas potáveis estão sendo poluídas, é preciso mover o coração para promover uma mudança de comportamento diante dessas coisas, é preciso ter um coração amoroso com Deus e compassivo com sua criação, pois quem ama cuida. Assim fazem os amantes da vida e os amantes de Deus.

 

 

Convento da Penha, Recife-PE, 20 de janeiro de 2021,

Festa do Mártir da vida São Sebastião.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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